Você sabia que o amor pode ser, para muitas pessoas, uma obsessão? Muitos de nós nem se dão conta, mas são obsessivos por seus parceiros ou por seus relacionamentos – o que é um problema grave e, infelizmente, muito mais comum do que imaginamos. Simplificadamente, obsessão nada mais é que um apego exagerado a algo ou a alguém. Uma pessoa que se preocupa o tempo todo com a outra, a ponto de colocar as necessidades e opiniões dela à frente de suas próprias, por exemplo, pode ser considerada obsessiva.
O grande problema é quando confundimos tal obsessão com AMOR. Obsessões normalmente se originam de uma dependência, portanto, de acordo com os psicoterapeutas americanos Howard Halpern (autor de diversas obras sobre relacionamentos onerosos) e Stanton Peele (PhD em psicologia e pioneiro no assunto “dependências” com diversos livros e artigos publicados), o comportamento obsessivo em relação a uma pessoa ou a um relacionamento também é sintomático entre dependentes. Isso quer dizer que, ao percebermos sinais frequentes de preocupação e importância excessivas em relação ao outro, podemos nos descobrir dependentes de “amor”. Sim, isso existe. Pessoas que apresentam comportamentos obsessivos nos relacionamentos são chamadas de dependentes de “amor” — “amor” este, com “a” minúsculo e entre aspas por, de fato, não se tratar do Amor verdadeiro (com “A” maiúsculo), mas algo que com ele confundimos.
Em seu livro “Amar Demais”, a autora Susan Peabody explica que todos os tipos de dependências (a álcool, drogas, comida, trabalho, sexo e até “amor”) têm algo em comum: são, inicialmente, uma tentativa de controlar prazer e dor. A diferença entre eles são os atrativos – aquilo que faz com que uma pessoa se torne dependente. Por exemplo, de maneira geral, os atrativos para o alcoolismo são: a mudança de personalidade após o uso do álcool e os efeitos anestésicos causados por seu consumo. Quando se trata de “amor”, os atrativos mais frequentes são:
- fantasias românticas que diminuem as sensações de solidão e rejeição, e que projetam o sonho do “felizes para sempre”;
- a ideia de que se unir a alguém ameniza o medo (consciente ou inconsciente) do abandono e acaba com a solidão e com a baixa autoestima.
Peabody explica ainda que, uma vez dependente, o obcecado por “amor” segue todos os estágios de qualquer outra dependência, desde as experiências eufóricas que são seguidas pelo declínio de seus efeitos (que por sua vez reforçam ainda mais a dependência), até o surgimento de problemas graves típicos. Infelizmente, esse lado obscuro dos relacionamentos românticos é vivido diariamente por milhares e milhares de homens e mulheres, que sentem dor e sofrimento na pele.
Mas, calma! Segundo Peele, a maioria das pessoas passa por algum tipo de dependência ao longo da vida, variando em grau e em duração. E ele afirma que grande parte das dependências (incluindo a de “amor”) não representam problemas de saúde, mas problemas da vida – os quais a maior parte dos indivíduos supera.
A grande maioria dos dependentes de “amor” não fazem a menor ideia de que o são, e embora pouco difundida, este tipo de dependência é um distúrbio tão nocivo quanto qualquer outro (dependência química, alimentar, tecnológica, etc.) e, portanto, merece atenção, reconhecimento e tratamento. Normalmente os tratamentos para este mal consistem em grupos de apoio, onde são seguidos os mesmos passos utilizados na recuperação de alcoólicos anônimos.